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Há uma Governança Corporativa nas Instituições de Saúde?

O quanto é empregada a Governança Corporativa nos serviços de saúde no Brasil? Infelizmente, não tenho o dado certo e definitivo, mas, reunindo algumas informações, deduções e estimativas, não deve ultrapassar o número de cem instituições.

Dessas, entre cinco e dez adotaram o conceito por conta da abertura de capital, por força de ações negociadas em bolsa de valores. Logo, restam em torno de 90 serviços que por iniciativa e esforço próprio adotaram a modelagem organizacional e empresarial de governança.

O Brasil tem hoje, aproximadamente 245 mil instituições de saúde cadastradas no Conselho Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), entre hospitais, clínicas, serviços de diagnóstico e tratamento e outros. Ou seja, 0,04% dos players do setor aplicam na prática a governança corporativa. Sim, 0,04%! Façam o cálculo – tivemos que conferir alguma vezes, tamanha a disparidade observada.

Posso afirmar que a mudança para melhorar a penúria da maioria das instituições de saúde passa por medidas drásticas na gestão, a começar pela “cabeça” das mesmas. É na alta administração que isso precisa começar, logo estamos falando da governança.

Lembro-me do caso muito comentado na época da mudança na gestão da Santa Casa de Porto Alegre, por volta de 1982, patrocinada pelo então Secretário Estadual da Saúde, Dr. Jair Soares. Graças à atitude dele e de sua equipe, ofereceu à Mesa Administrativa do Hospital, apoio humano – pessoas capacitadas e qualificadas e tecnologia de gestão para salvar a centenária instituição, então em momento pré-falimentar.

Ela não só sobreviveu, sem dúvida apoiada pelas radicais transformações no seu modelo de gestão, como conseguiu em 2002 o Premio Nacional da Qualidade (PNQ), até a ocasião o único hospital brasileiro detentor dessa honraria. Naquela época não existia a institucionalização da governança corporativa, mas os conceitos aplicados tinham tudo a ver com a estrutura e o modelo.

Pergunto: por quais motivos não temos difundido e implantado este modelo com mais tenacidade nas instituições de saúde?

Parece-me que podemos considerar duas causas. Primeira: uma razão de ordem histórica e cultural. A maioria dos hospitais foi fundada como entidades comunitárias e religiosas não-lucrativas. Diretores, presidentes e provedores, dessas instituições normalmente eram oriundos de associações, bancários, membros de igrejas, médicos do corpo clinico e muito raramente empresários com experiência em mercado, negócios ou gestão.

A gestão dessas instituições era e em muitos casos continua sendo amadora. Sem planejamento, orçamentos, controles, indicadores e sem processos mapeados, documentados e cumpridos, tomando-se decisões de acordo com o soprar do vento ou ao sabor de quem estava e está no comando. Notem que grande parte dos casos de sucesso existentes, encontramos nas organizações fundadas por membros de diferentes etnias, a saber: alemães, portugueses, israelitas, sírios libaneses, espanhóis e estas compostas por empresários afeitos a dirigir grandes empresas.

Certamente, com a prática da acreditação de hospitais, clinicas e serviços de saúde uma nova mentalidade começa a tomar corpo com prenúncios vantajosos e de rápida transformação dessas entidades.

A segunda razão é, sem dúvida, a falta de gestores preparados. A Administração em Serviços de Saúde é uma formação só muito recentemente oferecida ao mercado. Os primeiros cursos de especialização em gestão de serviços de saúde e MBAs apareceram somente há cerca de vinte anos, ainda são poucas instituições que oferecem cursos especializados e na maioria são pouco acessíveis em custo e distância.

No entanto, para tais posições de governo nas instituições não basta somente uma formação especifica, mas também é valiosa e necessária a experiência. O ocupante desses cargos precisa obrigatoriamente ter um perfil de gestor, de líder e de algumas características de empreendedor.

Com toda a certeza levaremos ainda algum tempo para chegar à plenitude de uma gestão empresarial profissional nos serviços de saúde. Obstinação e persistência são dois excelentes remédios.

Sócio da Korbes Consulting com ênfase em trabalhos de: Implantação de governança corporativa, Análise e implantação de estrutura organizacional e seu desdobramento, Definição de estratégias com implantação do plano estratégico e seu desdobramento, e gestão do Corpo Clinico. Foi Diretor do Grupo Saúde Bandeirantes. Foi Diretor da ACSC - Hospital Santa Catarina. Foi Superintendente Geral do Hospital Moinhos de Vento.

Um comentário em: “Há uma Governança Corporativa nas Instituições de Saúde?

  1. Olá Dr Genésio,
    Primeiramente gostaria de parabenizar pela excelente matéria!
    Embora eu seja uma jovem na área da qualidade com meus quase 16 anos de estrada vejo nela a ausência de elementos fundamentais, dentre eles essência.
    A profundidade de profissionais que tenham as competências necessárias, somadas a experiência faz sem duvida alguma muita diferença, e hoje nos deparamos com muitos gestores frente a instituições com imenso despreparo e ainda arrogância ao lidar com assuntos e ferramentas da qualidade e aplicação delas para melhoria dos processos.
    Muito bom poder sentir sua experiência nas palavras, compartilhe mais conosco, tive oportunidade de acompanhar por pouco tempo sua gestão no Bandeirantes e posso afirmar o quanto é válido este saber.
    Abrçs

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