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Cultura Organizacional ou Culturalismo nos Hospitais?

Observo que em grande parte dos hospitais onde presto consultoria, uma das primeiras coisas que me colocam é que “aqui é diferente” ou “aqui as coisas não funcionam” ou “a nossa cultura é assim mesmo”, atribuindo as possíveis dificuldades de gestão a problemas ditos culturais.

É interessante identificar como as organizações atribuem a sua incapacidade de resolver problemas a uma concepção que ela nem entende perfeitamente o que significa, sendo mais fácil achar um “culpado” (no caso a cultura organizacional) do que tentar reverter a sua situação, procurar métodos de mudança, inovar sua gestão, aplicar conceitos proativos e realmente resolver os problemas.

Para tentar entender esta situação, podemos colocar uma abordagem de Maria Teresa Fleury, quem coloca que “pelo fato do conceito cultura organizacional não estar suficientemente definido para o contexto organizacional, corre-se o risco de transformar a cultura organizacional numa vala comum, onde sepultam, indiferentemente, todos os problemas de origem obscura, assim como todas as propostas de mudanças abortadas”.

Prestando atenção, é interessante como se define aquela caixa preta que ninguém entende, para onde vão os problemas que não são resolvidos, bem como as tentativas de mudança que não possuem um apoio político interno. Esta abordagem consegue responder em parte ao caos que significa a cultura organizacional arraigada nos hospitais. Fleury defende que existe um culturalismo, em contraponto a cultura.

No campo da psicologia, o culturalismo atribui à cultura o papel determinante no desenvolvimento do carácter e da personalidade, enquanto que nas ciências sociais em geral o culturalismo se traduz no destaque do papel da cultura na organização das condutas e dos fenômenos coletivos. É um ponto de vista que encarreira pelo determinismo cultural entendendo que todas as realidades estudadas são explicáveis através da análise de fatores culturais, isto é, através da rede de significados que constitui a cultura.

Em saúde pública, por exemplo, pode-se observar que um dos maiores contribuintes para o culturalismo são os valores pagos pelo SUS pelos tratamentos, e os administradores se prendem a isso para culpar a tudo que acontece de ruim nos hospitais, defendendo o fracasso da administração e impedindo que sua mente seja aberta para reais soluções, que proporcionariam uma vida ou sobrevida melhor às organizações hospitalares. O culturalismo consiste em jogar a culpa no sistema do que tentar achar uma maneira de resolver os problemas, confundindo-o e criando uma falsa ideia coletiva para dizer, “assim é a cultura da empresa”.

Para corrigir isso, se faz necessário criar uma verdadeira cultura organizacional, que segundo Edgar Schein é um conjunto complexo de valores, crenças e pressupostos básicos (sistemas, símbolos, mitos, padrões, etc.) que um grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender como lidar com problemas de adaptação externa e integração interna e que funciona bem o suficiente para serem considerados válidos e ensinados aos novos membros como a forma correta de perceber, pensar e sentir, em relação a esses problemas.

Ou seja, o culturalismo é o culpado por tudo aquilo que dá errado, como defende Fleury e a cultura organizacional, como diz Schein, constitui os elementos de resolução de problemas e andamento de processos internos e não como um lugar onde as coisas não resolvidas são rotuladas e aceitas.

Mestre em Administração de Empresas com ênfase em Administração da Produção, com linha de pesquisa em Inovação e Competitividade. Pós-graduado em Formação de Consultores, pós-graduado em Gestão em Saúde, MBA em Gestão Empresarial e graduado em Ciências Contábeis. Professor universitário no curso de tecnólogo em finanças. Consultor de empresas, com execução de implantação de sistemas de custos, planejamento orçamentário, planejamento tributário, controladoria, desenvolvimento de projetos para captação de recursos, análise de negócio, faturamento, análise de processos, reorganização administrativa e auditoria.

Um comentário em: “Cultura Organizacional ou Culturalismo nos Hospitais?

  1. Caro Jaime, sua pertinente observação lembrou-me um texto que publiquei em meu blog (aqui: http://migre.me/bc1he) onde eu comentava, em outras palavras, sobre este culturalismo. Foi mais fácil me demitirem do que realizarem mudanças na organização. O tema abordado em seu texto atinge (e muito) os profissionais pró-ativos. “Reverter a situação” e “resolver os problemas”? Melhor deixa como está. Abraço cordial!

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