Blog

Compostagem no Hospital: a Reciclagem mais Inteligente.

Do enorme desafio que é garantir destinação e tratamento adequados aos diversos grupos de resíduos do hospital, a compostagem dos resíduos orgânicos na própria instituição é, sem dúvida, a solução mais rápida, simples, eficiente e barata de ser implantada.

Implantar e operar um sistema de compostagem no próprio hospital envolve:

  • treinamento de muito menos colaboradores,
  • quase nada de recursos materiais na operação e
  • garante ZERO impacto ambiental, entre outras razões porque
  • não envolve transporte rodoviário dos resíduos,
  • você tem total controle sobre a real adequação do tratamento, não dependendo da confiança em terceiros,
  • 100% do resíduo tratado é reaproveitado como adubo.

Este artigo propõe um olhar panorâmico sobre as vantagens e benefícios da implantação e operação de um sistema de compostagem no próprio hospital.

Também vamos mostrar a você quais são os primeiros passos para agregar este recurso à lista de práticas sustentáveis de seu hospital, em busca da uma relação equilibrada com o ambiente natural.

Resíduos de Serviços de Saúde e Compostagem

Segundo levantamento da Abrelpe, entre 65% e 70% dos Resíduos Sólidos de Saúde (RSS) gerados no Brasil podem ser reciclados. Quanto desse montante é composto por resíduos orgânicos vai depender das especificidades de cada estabelecimento assistencial de saúde.

É claro que nem todos os resíduos orgânicos do hospital podem ir para a compostagem. Mas dependendo do perfil do seu hospital, se ele dispõe de cozinha, seja apenas para pacientes ou também para os funcionários, com certeza a compostagem se aplica.

A própria RDC 306 da Anvisa, que regulamenta o gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde, prevê a compostagem de parte dos resíduos do Grupo D, como “sobras de alimentos e do preparo de alimentos, resto alimentar de refeitório e resíduos de varrição, flores, podas e jardins” em seu item 13.3.2 (veja a norma na íntegra AQUI).

Compostagem: a reciclagem mais simples

Isso mesmo. A compostagem nada mais é que a reciclagem natural de um tipo específico de resíduo: o orgânico. Mas do ponto de vista da logística interna do hospital, ela é muito mais simples e efetiva que a reciclagem de papéis, plásticos etc. Sabe por que?

  • Os resíduos recicláveis secos são gerados por todo o hospital. Como a segregação deve ser feita já no descarte, é necessário comprar e distribuir inúmeras lixeiras coloridas pelo hospital todo. Os orgânicos a compostar são gerados apenas em locais bem específicos: cozinha, refeitório e jardim.
  • Os recicláveis secos são segregados pelos usuários desses materiais, ou seja, todos os colaboradores do hospital. Assim, o projeto de sensibilização (pra quê segregar e reciclar) e treinamento (como segregar) deve englobar TODO o corpo de funcionários da instituição. Para a compostagem, o projeto está pronto para começar apenas treinando as equipes da Nutrição, Limpeza e manutenção de jardins.
  • Pelos dois motivos anteriores, a implantação do projeto de compostagem de resíduos orgânicos no hospital é muito mais rápida que o de coleta seletiva de resíduos recicláveis secos.
  • A coleta seletiva dos recicláveis secos requer carrinhos diferenciados e uma logística própria que percorre todo o prédio, enquanto que os resíduos orgânicos a compostar, continuam quase com a mesma logística, exceto que ao invés de irem para o depósito de lixo comum (ou pior: para a calçada), vão para as composteiras.
  • Os recicláveis secos vão de caminhão para sua destinação final longe do hospital, o que além de incrementar o impacto ambiental (uso de energia, emissão de GEE etc), dificulta o controle do gerador (hospital) sobre a qualidade da destinação e tratamento desses resíduos, preconizada pela Política Nacional de Resíduos Sólidos no conceito de responsabilidade compartilhada (veja a íntegra da lei 12.305/2010 AQUI). Seu hospital realizando a compostagem internamente, tem total controle sobre o tratamento adequado desses resíduos e fica com os produtos dele resultantes: adubos orgânicos.

Indicadores de Sustentabilidade: o que era rejeito passa a ser resíduo reciclável

Se você não está muito familiarizado com esses termos, uma explicação rápida: resíduo são todos os materiais inservíveis para o hospital, resultantes de seus processos de produção. Eles são classificados em vários grupos, ou tipos de resíduos, digamos assim.

Rejeitos são aqueles resíduos que não têm mais alternativa de reúso, reciclagem ou tratamento e vão para o aterro, esgotadas todas as possibilidades de reaproveitamento.

Entendido isso, perceba que os resíduos orgânicos do seu hospital, se não forem para a compostagem, vão direto para aterros (no Brasil, a maioria ainda são lixões) como REJEITOS, contribuindo para o já conhecido impacto ambiental desses depósitos ao ar livre.

Mas se forem para a compostagem, são 100% RECICLADOS, transformados em PRODUTOS aproveitáveis, reduzindo assim a pegada ambiental da sua instituição.

Se você olhar para o processo à distância, mesmo os resíduos secos que seu hospital encaminha orgulhosamente para reciclagem não são aproveitados de forma tão eficiente e limpa. Além do transporte, esses materiais passarão por um processo industrial para serem reciclados. Processo este que gera seus próprios resíduos, emissões e rejeitos.

Depois os produtos resultantes ainda precisarão ser distribuídos de volta para o mercado. O adubo da sua composteira não! Eles serão usados nas plantas, canteiros e jardins do próprio hospital, ou da praça em frente, ou de uma horta comunitária da vizinhança etc.

Percebeu a diferença da eficiência? 100% do resíduo é reciclado, 100% do produto final é aproveitado e ZERO se transforma em rejeito! Mudam para melhor seus indicadores de gestão de resíduos sólidos.

Seu Hospital pode Implantar?

Se você chegou até aqui na leitura, torçemos para que seja porque se interessou por implantar um processo próprio de compostagem em seu hospital.

Deduzo que a esta altura esteja se perguntando: mas o que é necessário para implantar? Como saber se é possível faze-lo em meu hospital? Vamos lá:

Tipos de Compostagem

Para médios e grandes geradores, que seria o caso de um hospital, há três métodos de compostagem. Mas antes de falar deles (e que você pergunte): nenhum deles emite mau cheiro! Sério, falo porque eu mesma já pus o nariz e constatei! Veja quais são:

Vermicompostagem em Minhocários Modulares

compostagem-minhocarios-modularesA compostagem com ajuda de minhocas processa os resíduos orgânicos e os transforma em composto de ótima qualidade nutricional para as plantas.

Em módulos de caixas plásticas, ocupa pouco espaço e é de manuseio muito fácil. Próprio para ambientes urbanos.

 

Compostagem Termofílica em Cilindros

composteiras-cilindros2Este sistema aceita maior variedade de resíduos orgânicos, como restos de carne e alimentos cozidos. Funciona pela ação de bactérias termofílicas que elevam a temperatura dos resíduos a 60ºC, o que elimina eventuais patógenos.

O modelo em cilindros permite melhor gestão do espaço quando há restrição de área, ideal para ambientes urbanos.

Compostagem Termofílica em Leiras

compostagem-leiras2Funciona da mesma forma. O modelo em leiras é mais adequado para volumes maiores de resíduos e exige mais espaço físico: os chamados pátios de compostagem.

Qual é o mais Adequado para seu Hospital?

A resposta certa é: depende. São vários fatores que determinam a melhor opção, todos muito específicos de cada instituição. Entre eles:

  • Composição dos seus resíduos orgânicos
  • Quantidade gerada
  • Tamanho e características da área física disponível
  • Adaptabilidade (física, de pessoal e equipamentos) para adotar uma ou outra logística

A forma mais garantida de avaliar isso é perguntar a quem entende. Só quem conhece a fundo a compostagem poderá avaliar em detalhes a realidade de seu hospital e fazer um bom diagnóstico, para então recomendar o método, dimensão e logística mais adequados para seu caso específico.

O Diagnóstico

Após levantar todas as informações necessárias sobre seu hospital, desde recursos de espaço, pessoal, instrumental, até o tipo e quantidade de resíduo orgânico gerado, a empresa especializada deverá elaborar um diagnóstico contendo pelo menos:

  • Relatórios sobre a situação levantada,  justificando as
  • Sugestões de projetos viáveis, cada um com uma
  • Estimativa de custos e
  • Um roteiro da implantação do sistema: segregação, armazenamento, transbordo, compostagem, maturação do composto, embalagem e destinação final do composto (lembrando que cada passo destes pode ou não existir separadamente, a depender das especificidades do sistema proposto)
  • Também nos trabalhos de conscientização e treinamento com oficinas, palestras, vivências etc.

Tripé da Sustentabilidade do Hospital

Até agora só falamos dos benefícios ambientais da implantação de sistema de compostagem em seu hospital. Mas a compostagem própria também pode contribuir para os outros dois “pés” da Sustentabilidade: o econômico e o social.

A depender da comunidade em que seu hospital está inserido e da relação que ele tem com ela, as composteiras poderão contribuir até com uma melhoria da qualidade da alimentação (e portanto da saúde) da sua população.

A produção de adubo orgânico poderá servir de incentivo, por exemplo, para a criação de hortas comunitárias orgânicas, que podem gerar trabalho e até renda para grupos menos favorecidos do entorno do hospital.

O mesmo pode acontecer internamente: se seu hospital dispõe de espaço, a horta pode ser dentro de seu terreno e reabastecer sua própria cozinha com alimentos orgânicos. Isso serviria também de incentivo para seus colaboradores adotarem uma alimentação mais natural e sadia.

Como você pode ver, as possibilidades são muitas e a criatividade e motivação do seu hospital saberão encontrar aquelas que melhor se moldam a sua realidade.

Agora você deve ter entendido o título deste artigo: compostar os resíduos orgânicos, seja no seu hospital ou mesmo na sua casa, é uma atitude inteligente e responsável!

Arquiteta Ellen Hardy, pós-graduada em Administração Hospitalar. Mais de 12 anos projetando, reformando e cuidando da manutenção de hospitais de referência, hoje dedica sua experiência a ajudar hospitais e clínicas de todo o Brasil a incrementarem a funcionalidade, o humanismo e a sustentabilidade de seus edifícios.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

× Como posso lhe ajudar?