Todo ano procuro relembrar o que aconteceu durante o mesmo, e projetar o que está por vir no próximo. E desta vez não foi diferente, em relação a 2014.
Você sabe o que vejo de diferente para 2015?… A quantidade de nuvens cinzentas e o prenúncio de tempestade. Infelizmente, para a área da saúde, estamos vivenciando que não vai ser um ano fácil.
Em 2014 acompanhamos um combate eleitoral voraz, onde predominaram o ódio, as acusações, o desrespeito à pessoa e o vale-tudo para subir a rampa do Planalto.
E, embora segundo uma pesquisa de uma destas empresas que realizam pesquisas de opinião pública, a preocupação com a saúde, vem em 1º lugar na mente da população desde 2008, ouvimos muito pouco, ou quase nada dos candidatos sobre este setor (e de outros, como educação), o que de certa forma explica porque a grande maioria dos parlamentares se tratam em famosos hospitais de São Paulo.
Presenciamos, uma série de denúncias e evidências de corrupção, envolvendo empresas importantes, e até agora sequer as pessoas envolvidas foram “convidadas” a se retirar dos cargos que ocupam. Nem bem iniciou o ano, outro escândalo de proporções gritantes explode nos noticiários: a máfia das próteses. Uma praga que há mais de 20 anos penaliza o sistema de saúde, os hospitais e os pacientes.
Muitos players do setor já tinham conhecimento desse procedimento, mas, sem provas, não havia como levar adiante a denúncia e a uma investigação efetiva.
E podemos citar, que muitos tem a certeza de impunidade, e isso, certamente é a grande proteção desse sistema do sair ganhando a qualquer preço, do tirar vantagem em tudo. Parece que o ar que respiramos está impregnado com esta certeza. Parece que estamos cercados e paralisados para esboçar qualquer tipo de reação.
Continuamos passivos até o próximo escândalo, quando alguns se levantarão e esbravejarão contra as atrocidades, mas nada de concreto acontece. Eu sou um sujeito otimista por natureza, mas, pela primeira vez, inicio um ano com muito temor. Com perspectivas em baixa e, com pesar, apostando nas muitas chances do novo ano estar coberto de nuvens cinzentas. David Uip, Secretário de Saúde do Estado de São Paulo, iniciou da seguinte forma um artigo publicado pela Folha de S. Paulo em abril de 2014: “quando se tenta consertar algo e o resultado prejudica ainda mais o problema, diz-se que a emenda saiu pior que o soneto. Na saúde pública brasileira, temos acompanhado episódios que remetem ao ditado popular, causando preocupações e incertezas”.
Infelizmente, não faltam exemplos para ilustrar o raciocínio. Vejamos alguns:
A Emenda Constitucional 29, regulamentada em setembro de 2011, até hoje continua sem cumprimento, pois a União não repassa ao sistema o que ali está expresso. E o que acontece com os agentes que descumprem a Constituição? Nada.
O relatório do Tribunal de Contas da União feito a partir de uma auditoria em 2013 apresenta dados assustadores:
Em 1995, tínhamos 3,22 leitos por 1.000 habitantes. Em 2010, o índice caiu para 2,63.
b. 64% dos hospitais do SUS estão superlotados. 6% nunca estiveram cheios.
c. Evidências gritantes de má gestão com aparelhos novos encaixotados há meses. Aparelhos de endoscopia sem uso por falta de área física.
d. Equipamentos enviados aos hospitais sem necessidade.
e. Falta de medicamentos e insumos.
O Brasil investe 9% do PIB em saúde, o que resulta em US$ 490.00 por habitante, enquanto que a Argentina investe US$ 700.00 e o Chile US$ 550.00.
Gargalos crônicos permeiam o nosso sistema de saúde. Entra ano, sai ano e a situação persiste:
a.O financiamento.
b. A qualificação profissional.
c. Gestão mais ágil e eficaz.
Tem muita gente preparada e articulada constatando os desvios e apontando possíveis caminhos para a saúde pública brasileira. O comentarista da Rádio Estadão Antônio Penteado Mendonça, por exemplo, foi certeiro a afirmar, poucas semanas atrás, que nem a criatividade brasileira vai conseguir salvar o setor, porque o modelo, segundo ele, parte de premissas erradas que impedem o custeio do sistema. Se, por um lado, o SUS tem menos de US$ 100 bilhões anuais para atender mais de 150 milhões de pessoas, por outro, o sistema privado gasta uma vez e meia este valor para atender aproximadamente 50 milhões de segurados. Tem algo errado ou é só impressão minha?
Um caminho seria o fortalecimento das parcerias público-privadas (PPPs), que, quando encontram o cenário propício para crescer e florescer, têm se mostrado promissoras no enfrentamento dos problemas crônicos de gestão das nossas instituições de saúde. Certamente a entrada do investidor estrangeiro, aprovado por MP publicada no dia 20 de janeiro, trará mudanças significativas; e quem sabe não será o marco para que o país tenha o seu Sistema Brasileiro de Saúde. Mas esses são temas que voltaremos a explorar no momento oportuno.
[easy_contact_forms fid=2]
Genesio Korbes
Sócio da Korbes Consulting com ênfase em trabalhos de: Implantação de governança corporativa, Análise e implantação de estrutura organizacional e seu desdobramento, Definição de estratégias com implantação do plano estratégico e seu desdobramento, e gestão do Corpo Clinico. Foi Diretor do Grupo Saúde Bandeirantes. Foi Diretor da ACSC - Hospital Santa Catarina. Foi Superintendente Geral do Hospital Moinhos de Vento.