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Uma Assistência Limpa é uma Assistência mais Segura.

A Infecção Associada ao Cuidado de Saúde (IACS) é o evento adverso mais recorrente no mundo, acarretando o aumento nos índices de reinternações hospitalares, média de permanência e até nos índices de mortalidade, problemas que, na maioria das vezes, podem ser evitados com estratégias eficazes de prevenção e controle.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que 5% a 10% dos pacientes hospitalizados em países desenvolvidos contraem infecções durante a internação; também evidenciam que o risco de contrair IACS é até 20 vezes maior nos países em desenvolvimento; e, que nos EUA, 2 milhões de casos de infecção hospitalar e 80 mil mortes ocorrem a cada ano.

Com base nesses dados alarmantes, o Programa de Segurança do Paciente da OMS lançou em 2005 o desafio global “Clean Care is Safer Care” com o objetivo de reduzir as infecções relacionadas aos cuidados de saúde, já que esse é o evento adverso mais prejudicial e mais frequente em países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Buscando garantir padrões elevados de controle de infecção e segurança do paciente, a campanha buscou promover mundialmente as melhores práticas de higienização das mãos em todos os níveis de cuidados de saúde, já que esta ação muito simples e de baixo custo é eficaz para a redução dos níveis de IACS.

Desde 2009, anualmente o desafio proposto em 2005 é fomentado pela campanha mundial “SAVE LIVES: Clean Your Hands” (SALVE VIDAS: Lave As Mãos), promovida pelo mesmo programa, com o objetivo de manter esse perfil global em prol da assistência limpa e segura.

De acordo com Didier Pittet (Diretor do Programa de Controle de Infecção da Universidade de Genebra), 128 países membros, inclusive o Brasil, se comprometeram com o apoio e com a mudança. Em maio de 2012, mais de 15 mil estabelecimentos de saúde se empenharam em melhorar a higienização das mãos e continuam a fazê-lo anualmente, o que representa, aproximadamente, 10 milhões de trabalhadores de saúde em todo o mundo empenhados com essa causa.

Embora a IACS seja o evento adverso mais frequente, e a sua principal ação de melhoria seja a higienização das mãos, o verdadeiro “peso global” do resultado dessa ação permanece desconhecido, considerando-se a dificuldade para a coleta de dados confiáveis e para o monitoramento da eficácia desse procedimento.

No entanto, iniciativas como a conscientização e a capacitação dos profissionais da saúde nesse procedimento podem fazer a diferença na qualidade da assistência prestada dentro das instituições, culminando na redução de “índices termômetros” como taxa de infecção, reinternação, permanência e mortalidade.

A OMS é uma grande aliada e disponibiliza ferramentas que podem facilitar esse trabalho de reeducação profissional dentro das organizações de saúde. Essas ferramentas constituem-se, em sua maioria, de dispositivos visuais que têm uma grande aceitabilidade pelos usuários e facilidade de implementação pelo baixo custo.

Uma ferramenta muito eficaz, mas ainda pouco utilizada e que pode trazer resultados significativos para a segurança é o “Quadro de Auto Avaliação de Higienização das Mãos”, lançada em 2010. Esse quadro, juntamente com uma política organizacional não punitiva, pode revelar dados consistentes e fidedignos para direcionar as ações do grupo de trabalho institucional voltado para a prevenção de IACS.

Essa ferramenta propõe a autoavaliação das unidades de saúde feita pelas lideranças e profissionais que nelas trabalham. Ela funciona basicamente como um “score da lavagem das mãos”, que é determinado através da abordagem de questões relativas à estrutura física, educação e treinamento, avaliação e feedback, lembretes no local de trabalho e clima de segurança institucional para higienização das mãos.

De acordo com o score, a unidade é classificada em um “nível de higienização das mãos”, que pode ser: inadequado, básico, intermediário (em consolidação) e avançado (em incorporação), inferindo qual é a taxa de adesão desse procedimento. Após a determinação do score e do nível, a etapa seguinte revela à liderança o como agir, direcionando a realização de um plano de ação para o atendimento das necessidades que foram identificadas.

A recomendação é que essa estratégia seja aplicada, primeiramente, para o diagnóstico da unidade e, posteriormente, aplicações periódicas atreladas a uma meta de melhoria, têm por objetivo acompanhar a evolução das unidades e estimular a manutenção das melhorias implantadas de forma a torná-las contínuas, movimentando o clima de segurança organizacional de forma progressiva.

A adoção de estratégias em prol da segurança salva vidas e a multiplicação dessas boas práticas assistenciais podem orientar organizações que ainda estão amarradas ao antigo modelo assistencial de cura. Portanto, todo o profissional de saúde deve agir de maneira segura e multiplicar a sua boa prática no intuito de contribuir de forma sinérgica com o movimento mundial para de Segurança do Paciente.

Enfermeira, graduada pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), pós-graduada em Terapia Intensiva pela PUC-Campinas, pós-graduada em Gestão Hospitalar pela Unicamp e MBA de Executivo em Saúde pela FGV. Atualmente é docente do Centro Universitário Paulista (UNICEP) e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSCAR na linha de pesquisa Trabalho e Gestão em Saúde e Enfermagem. Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gerenciamento e Informática em Enfermagem da UFSCAR. Membro da Rede Brasileira de Enfermagem e Segurança do Paciente (REBRAENSP). Membro do Pólo de Enfermagem e Segurança do Paciente de São Carlos. Membro efetivo da Comissão de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSCAR. Trabalhou diretamente em instituições hospitalares com gestão da qualidade, do corpo assistencial e enfermagem, tornando-se consultora nessas áreas de atuação e em gestão por processos em saúde.

9 comentários em: “Uma Assistência Limpa é uma Assistência mais Segura.

  1. Parabéns Valeria, vc fez uma ótima abordagem.
    Vamos continuar trabalhando para uma realidade sempre melhor para a saúde da nossa cidade e nosso país!
    Grande Abraço.

    1. Olá, Sílvia!
      Concordo com você, temos que lutar por uma saúde mais qualificada e segura fazendo uma corrente de mudanças na nossa cidade, região e país. Obrigada pela sua consideração. Grande abraço.

  2. Valéria foi uma excelente abordagem sobre esse assunto, que embora parece tão simples, é extremamente relevante para uma assistência de qualidade e segura e que as instituições devem estar atentas. Parabéns pela matéria!

    1. Olá Gabriela, que bom contar com a sua participação!
      Com certeza estratégias simples em prol da assistência segura podem fazer uma grande diferença!

  3. O post traz brilhantemente o assunto que é de grande importância para os profissionais de saúde! O tema tem relevância de ser trabalhado, pois faz o diferencial no cotidiano das instituições de saúde! Parabéns pela matéria, Valéria!:)

    1. Oi Juliana, que bom que gostou da abordagem feita e que considera a temática relevante, precisamos cada vez mais de profissionais empenhados, dentro das organizações ou instituições de formação, em ações que promovam o cuidado seguro. Obrigada.

  4. Matéria muito boa! Assunto tão relevante que deveria fazer parte da rotina de todos os profissionais de saúde. Parabéns!

    1. Olá Willyane, fico feliz que tenha gostado da matéria e por considerar o assunto relevante. Espero que possa auxilia-lá de alguma maneira em sua prática profissional. Obrigada pela sua participação!

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