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Reinternação Precoce: um indicador da Qualidade Hospitalar.

As reinternações hospitalares, sabemos, são um problema frequente nas instituições de saúde. Alguns estudos identificam que as taxas de reinternação hospitalar podem variar de 0,47% a 25,4%, dependendo das características demográficas e do tempo de análise entre a internação índice e a readmissão hospitalar do paciente.

O fato é que, as readmissões hospitalares, segundo alguns estudos, representam um indicador importante de qualidade assistencial, por refletir o impacto dos cuidados hospitalares na condição do paciente durante a internação e também após a alta.

A maioria dos estudos na literatura avalia a reinternação em 28 a 30 dias identificando taxas que variam de 5 a 25%, usando a seguinte fórmula: (nº de reinternações no período / nº de total de saídas no período) X 100.

Mas hoje se acredita que a análise de dados de pacientes que reinternam precocemente, em até 7 dias, pode levar a uma inferência mais fidedigna sobre a qualidade de atendimento prestada pela instituição do que a avaliação mais tardia, após 30 dias.

Em confronto a essa afirmação, alguns estudos a criticam, dizendo que a medição desta taxa tão precoce como um indicador da avaliação da qualidade de atendimento hospitalar, pode não ser tão efetiva, desde o ponto de vista assistencial, já que a grande maioria desses pacientes são de difícil manejo e cuidados, ou seja, apresentam diversas comorbidades associadas à doença de base e, muitas vezes, não possuem uma estrutura de suporte, fora do ambiente hospitalar, que possa fornecer cuidados adequados.

Além disso, existem muitas diferenças no perfil dos pacientes com reinternação precoce, como verificadas em diversos centros hospitalares considerados equivalentes com relação à qualidade de serviços prestados, onde segundo um estudo, as especialidades com maior taxa de reinternação na população adulta foram medicina interna (9,7%), hematologia (9,1%), cardiologia (5,7%), emergência adulto (5,5%), gastrenterologia (5,2%) e cirurgia geral (2,2%); e onde a maioria das internações se deveu a doenças cardiovasculares (20%), gastrintestinais (18%), respiratórias (17%), neoplásicas (17%) e urinárias (13%).

No entanto, considerando que uma reinternação traz um enorme ônus ao sistema de saúde, além de desconforto ao paciente e a seus familiares, é importante conhecer todos os perfis dessa população, com vistas a prestar um melhor atendimento hospitalar e, principalmente, planejar com mais atenção os cuidados que serão necessários após a alta a fim de evitar uma reinternação não programada.

Para consolidar a taxa de reinternações hospitalares como indicador de qualidade assistencial é necessário supor que uma proporção significativa de readmissões possa ser evitada caso a dispensação de melhores cuidados durante a internação ou após a alta sejam prestados.

Essa hipótese é sustentada por Clarke, que comparou taxas de reinternação hospitalar entre 1 a 6 dias e entre 21 a 27 dias. Demonstrando que 31,5 % das reinternações clínicas e geriátricas no período mais precoce seriam evitáveis, quando comparando com apenas 6,3% das reinternações tardias.

Considerando que a reinternação hospitalar sofre influências das condições sócio-econômicas do paciente, da estrutura familiar, da disponibilidade de acesso aos medicamentos prescritos e da adesão às orientações médicas, a avaliação da reinternação precocemente, em 7 dias, ao invés do indicador tradicional de reinternação em 28 dias, ofereceria um indicador mais fidedigno da qualidade da assistência prestada durante a internação índice, identificando fatores evitáveis de alta precoce.

Por tanto, conhecendo o perfil dos pacientes suscetíveis à reinternação hospitalar, acredita-se que o investimento em cuidados domiciliares, uma política de integração com a rede de atenção primária, retorno ambulatorial precoce e a possibilidade do desenvolvimento de hospital dia possam ser alternativas para evitar reinternações de pacientes não programadas e melhorar a qualidade hospitalar na assistência prestada aos nossos pacientes (Rev HCPA 2008;28(3):147-52).

Médico especialista em Administração Hospitalar e Marketing em Saúde. Autor do composto "10 P's do Marketing em Saúde". Professor do curso online Marketing Estratégico para Clínicas e Empresas de Saúde. CEO da HMDoctors, Assessor da Stratas Partners (Suíça) para o acesso ao mercado hospitalar brasileiro, Consultor de Gestão de Carreira e Marketing Médico, e Revisor de artigos e publicações sobre Gestão, Empreendedorismo e Marketing em Saúde para a revista eletrônica Gestão e Saúde da Universidade de Brasília - UNB. Formado em medicina com pós graduação em epidemiologia, formado em administração hospitalar e MBA em organizações hospitalares e sistemas de saúde pela FGV. 16 anos de experiência em hospitais públicos, privados, institutos de pesquisa clínica e consultor para empresas nacionais e multinacionais.

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