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Recomendações para evitar Exames e Tratamentos Médicos desnecessários.

Sabemos que exames e tratamentos médicos desnecessários contribuem aproximadamente com 20% das despesas em saúde, pelo que vários estudos de especialistas oferecem recomendações de toma de decisão terapêutica e diagnóstica, aos médicos, para tentar eliminar esses gastos supérfluos para o sistema de saúde, tanto pediatria como na medicina do adulto.

Além de aumentar o custo em saúde, exames desnecessários também trazem riscos para o paciente. O uso desnecessário de antibióticos, por exemplo, aumenta a resistência bacteriana. Já o excesso de raios-X e tomografias está associado a um maior risco de câncer.

Alguns estudos veem a influência da indústria farmacêutica e de diagnósticos nessas decisões médicas equivocadas. Outros apontam que o problema está na (falta de) capacitação médica em saber identificar o que não é benéfico para o paciente.

Segundo Gustavo Gusso, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família, é importante que as pessoas saibam que o excesso de exames traz mais problemas do que benefícios. Também existe um reconhecimento por parte dos médicos brasileiros de que muitos testes e procedimentos rentáveis são realizados de forma desnecessária e podem prejudicar os pacientes.

Os estudos publicados em The Journal of Hospital Medicine resumem em 10, as recomendações da campanha Society of Hospital Medicine’s Choosing Wisely, que já identificou 90 tratamentos que se realizam desnecessariamente e cuja eliminação ajudaria muito a reduzir os custos e aumentar a assistência ao paciente.

Na pediatria, para reduzir os custos sem comprometer a precisão diagnóstica e o cuidado no tratamento, os especialistas recomendam o seguinte:

  1. Não solicitar radiografias em crianças com asma ou bronquiolite, porque sua utilidade é limitada.
  2. Não utilizar broncodilatadores em crianças com bronquiolite, porque os agentes têm efeitos mínimos ou nenhum tratamento.
  3. Não tratar com corticosteroides sistêmicos, crianças menores de dois anos com uma infecção do trato respiratório inferior não complicada. Este tratamento é potencialmente prejudicial e não demonstra benefícios.
  4. Não tratar o refluxo gastresofágico em bebês, como rotina, com terapia de supressão ácida, como os inibidores da bomba de protões. A terapia anti-refluxo não reduz os sintomas da doença gastresofágica em crianças.
  5. Não indicar a oximetria de pulso continua em crianças com doença respiratória aguda, a menos que elas estejam com oxigênio suplementar. O uso contínuo de oximetria de pulso tem sido associado a um aumento de taxas de hospitalização e tempo de permanência.

No caso da medicina de adultos, as recomendações são:

  1. Não colocar ou deixar cateteres urinários nos casos de incontinência urinária ou pela conveniência para o monitoramento da produção de urina em pacientes não críticos. A má indicação de cateteres urinários pode aumentar a probabilidade de infecção, morbidade, mortalidade e custos mais elevados da saúde.
  2. Não prescrever medicamentos para profilaxia de úlcera de estresse em pacientes hospitalizados, a menos que eles tenham alto risco de complicações gastrointestinais.
  3. Evitar transfusões de glóbulos vermelhos em pacientes no limite inferior de hematócrito e na ausência de sintomas de doença coronariana ativa, acidente vascular cerebral ou insuficiência cardíaca. Determinar a decisão de transfusão com base em vários fatores, incluindo sintomas e concentração de hemoglobina.
  4. Não indicar monitoramento de telemetria contínuo fora da unidade de terapia intensiva sem usar um protocolo adequado para esse fim. O monitoramento telemétrico tem utilidade limitada, seu uso inadequado pode aumentar o custo do tratamento e produzir falsos positivos.
  5. Não indicar repetidamente, hemograma completo e exames de bioquímica, se o paciente está clinicamente e laboratorialmente estável.

Para Andrew Auerbach, MD, MPH, e Robert Wachter, MD, da Universidade de Califórnia, San Francisco, estas recomendações, tanto nos pediátricos, como nos adultos, representam um bom ponto de partida para a prática médica, com base nos esforços para reduzir o desperdício de recursos médicos. O próximo desafio será traduzir essas recomendações em medidas viáveis e protocolos ​​para a prática clínica.

Médico especialista em Administração Hospitalar e Marketing em Saúde. Autor do composto "10 P's do Marketing em Saúde". Professor do curso online Marketing Estratégico para Clínicas e Empresas de Saúde. CEO da HMDoctors, Assessor da Stratas Partners (Suíça) para o acesso ao mercado hospitalar brasileiro, Consultor de Gestão de Carreira e Marketing Médico, e Revisor de artigos e publicações sobre Gestão, Empreendedorismo e Marketing em Saúde para a revista eletrônica Gestão e Saúde da Universidade de Brasília - UNB. Formado em medicina com pós graduação em epidemiologia, formado em administração hospitalar e MBA em organizações hospitalares e sistemas de saúde pela FGV. 16 anos de experiência em hospitais públicos, privados, institutos de pesquisa clínica e consultor para empresas nacionais e multinacionais.

3 comentários em: “Recomendações para evitar Exames e Tratamentos Médicos desnecessários.

  1. Nos dias de hoje e dada a pressão a que os médicos são submetidos, em termos da resposta que têm de dar relativamente à sua procura (no nº de doentes/pacientes que têm que atender por dia) independentemente de fazerem medicina nos serviços públicos de saúde ou em Unidades privadas (em termos de seguros) é cada vez mais comum que, os exames complementares de diagnóstico e que, em princípio serviriam para confirmar uma hipótese diagnóstica sejam, de per si, exames diagnósticos, desvirtuando a função do médico e desvirtuando/penalizando a relação importantíssima médico-paciente. Desta forma o tempo que se perderia (quanto a mim e como médico – ganharia pela anamnese e exame clínico objectivo) vai-se perder excedendo-se em custos exponenciais e cada vez mais (des)necessários, custos esses que saem dos nossos impostos.
    No exercício clínico baseado em critérios de medicina defensiva as decisões clínicas não se baseiam nem na anamnese nem no exame clínico (nem na experiência do medico) mas também não se orientam para a satisfação das necessidades do doente mas somente para proteger o médico de uma eventual queixa.
    Considero isto uma forma não ética do exercício profissional pois desvirtua o acto médico que deixa de estar centrado no doente.
    Também não será, do ponto de saúde pública, um exercício eticamente admissível pois acarreta enormes custos sem qualquer justificação ou benefício para o doente
    Um estudo no Reino Unido (1995) mostrou que a maioria dos médicos praticava uma medicina defensiva, como referenciar o doente desnecessariamente (63,8%), prescrições não validadas (63,4%), prescrição de exames complementares não justificados (59,6%). Um estudo recente no México demonstrou que 61% dos médicos inquiridos utilizava prácticas defensivas.

  2. Já tive uma excelente experiência com a redução de custos com exames desnecessários. Uma das empresas em que trabalhei, disponibilizou acesso médico aos exames já feitos. Informávamos a realização prévia do exame solicitado, o que bastava para a suspensão do pedido. Com essas e outras medidas, conseguimos uma redução considerável no custo per capita. Mas o gestor tem que ter a TI ao seu lado e o compromisso dos profissionais no sentido de utilização consciente do sistema.

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