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Mais Médicos, Tem Certeza?

Há algumas semanas vimos manifestações em várias cidades do Brasil, que começaram motivadas com o aumento das passagens do transporte público, mas que tomaram proporções maiores.

Essas mesmas manifestações começaram a reivindicar também melhores condições de segurança, educação e saúde para a população.

Agora foi a vez dos profissionais médicos que protestaram, e com justa razão, o governo anunciou um programa para atrair mais médicos para trabalhar no atendimento a população nas periferias das grandes cidades e no interior do país, inclusive preenchendo as vagas com médicos estrangeiros, sem a devida revalidação do título médico, como exige o CFM.

Levar profissionais médicos até a população mais carente e cidades afastadas do território nacional seria ótimo para todos, porém será que esse profissional sozinho, sem a devida infraestrutura, conseguirá melhorias significativas na saúde da população?

“Eu trabalho no SUS. Tem quatro meses que eu trabalho num laboratório que é clinico cirúrgico. Até hoje, sabe quantas cirurgias eu conseguir fazer lá? Nenhuma. Nenhuma porque a sala de procedimentos não está pronta”, diz a médica Ana Carolina Porto.

Para o Conselho Regional de Medicina, o que falta no país não são médicos, mas condições mínimas de trabalho e segurança. “Se der condições de trabalho para o médico brasileiro, o médico vai trabalhar nesses locais”, diz Renato Azevedo, presidente do Cremesp.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, diz que a situação não é bem essa. “Eu visito unidades de saúde em todo o país. A gente encontra unidades de saúde prontas que a população espera um profissional e não tem médicos para funcionar”, diz.

Em sua coluna semanal, o Dr. Drauzio Varella, um dos mais conceituados profissional da área, diz que a saúde do Brasil sofre de dois males: falta de dinheiro e gerenciamento incompetente. Na verdade e com o devido respeito, sabemos como gestores que, muitas vezes a falta de dinheiro também provem do gerenciamento incompetente dos recursos destinados para este fim.

Um médico que viaja prestando serviços de saúde pelo interior do país e nas periferias das grandes cidades, sabe perfeitamente na prática por quais situações esta população passa, para ter um atendimento, mínimo que seja, nos postos de saúde de sua região. Esse poderia ser um ponto de partida para a melhoria desse sistema, partir da base da pirâmide, incluindo no planejamento e execução a quem vive, convive e sente na pele as consequências de um sistema ineficiente.

Vemos todos os dias reportagens de pacientes jogados em macas pelos corredores dos hospitais, reclamando da falta de materiais para receber um atendimento de qualidade, ambulâncias sem manutenção, obras de hospitais paradas ou com superfaturamento, equipamentos quebrados, que impossibilitam, algumas vezes, realizar exames básicos, que podem ajudar nos diagnósticos das doenças.

Outra norma entrará em vigor nos próximos anos, aquela em que obriga os médicos recém-formados a trabalharem para o SUS por dois anos. Esse programa, diz o governo dará a possibilidade destes novos profissionais aprenderem a exercer uma medicina que não é ensinada nas faculdades, poderão conhecer melhor as grandezas do país e sua realidade.

Claro que há lugares que faltam sim profissionais, principalmente nas regiões mais afastadas e mais pobres do país. Nesse caso, seria necessária a contratação de novos médicos para atuar nestes locais. Mas há condições mínimas de trabalho para estes profissionais? De que adianta ter a suspeita clínica se esse profissional não terá condições de solicitar exames auxiliares básicos? Para que diagnosticar uma hérnia se o paciente não vai conseguir ser operado? Para que dar ordem de hospitalização, se o hospital não tem mais leitos e há regiões que sequer tem hospital? Para que dar a receita se o paciente não vai ter condições de comprar os medicamentos, seguir a dieta ou ter avaliações complementárias com outros profissionais de saúde como enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas, e outros especialistas?

Só para termos uma ideia, estimativas revelam que no Brasil faltem 70 mil leitos hospitalares para atender a demanda atual de saúde, e estamos despreparados para atender à demanda das enfermidades responsáveis pela maioria dos óbitos na nossa população como: ataques cardíacos, câncer, diabetes, obesidade, derrames cerebrais, acidentes de trânsito, tabagismo e doenças pulmonares principalmente.

Atribuir a responsabilidade pelo descaso com o SUS à simples falta de médicos, acreditamos, é jogar areia nos olhos do povo descontente.

Devemos ter consciência de que, não é a contratação de mais médicos que irá mudar o cenário da saúde no nosso país, irá ajudar é claro, porque esse médico, temos certeza, fará o possível e até o impossível para cumprir sua função, mas se não houver uma estrutura adequada para prestar um atendimento de qualidade para a população, não adiantará muito inchar o sistema de saúde com profissionais que não tem o mínimo de condições para exercer suas funções.

Administrador Hospitalar pelo Centro Universitário São Camilo. Ampla experiência em rotina administrativa hospitalar, negociação de valores de materiais de alto custo e atendimento ao cliente. Busca se aprimorar com conhecimentos para a gestão e motivação de pessoas no ambiente hospitalar. Experiência em relacionamento com clientes, busca de novas parcerias e negócios.

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