Blog

Indicadores de Qualidade podem prejudicar o Paciente Idoso.

Indicadores de qualidade são parâmetros utilizados para avaliar a assistência e cuidados à saúde prestados aos pacientes. Eles são amplamente utilizados no sistema de saúde e visam sempre melhorar o atendimento.

No entanto, um comentário feito recentemente no JAMA (2011; 306 (13): 1481-1482), pelos geriatras Sei Lee e Louise Walter levantam sérias preocupações sobre danos não intencionais que os indicadores de qualidade podem estabelecer. Eles argumentam que os indicadores de qualidade, quando utilizados sem critérios pré-estabelecidos, podem prejudicar a qualidade dos cuidados prestados aos pacientes idosos, especialmente aqueles que estão em uma situação mais frágil e vulnerável.

Mas, como é possível que algo projetado para melhorar o atendimento pode-se tornar perigoso para os pacientes?

O ponto fundamental refere-se a que muitos indicadores de qualidade promovem um parâmetro clínico para a população geral, e os mesmos, dependendo do paciente, nem sempre é o melhor.

Por exemplo, os doutores Lee e Walter ilustram esse problema com o indicador de qualidade HEDIS (Healthcare Effectiveness Data and Information Set) para a hipertensão arterial, que informa a proporção de pacientes hipertensos que mantêm uma pressão menor de 140/90.

Se um médico decidisse que a pressão ideal para um determinado paciente tem que ser maior que 140/90, com certeza poderia passar a impressão de que esse médico, pelas atuais definições de hipertensão arterial, não estaria dando a devida atenção à saúde para seu paciente. Porém, em pacientes mais idosos, as metas da pressão arterial precisam ser ajustadas acima desse valor, devido a que, efeitos colaterais causados por uma baixa pressão, como a hipotensão ortostática, que pode ocasionar tonturas, quedas e até síncope, podem aparecer.

Outros exemplos de indicadores que precisam ser classificados de acordo com a necessidade dos pacientes são: controle glicêmico e rastreio do câncer. Precisam ser revistos e reajustados na população idosa, para fornecer uma melhor qualidade de atenção à saúde.

Esse desequilíbrio nos indicadores de qualidade é especialmente problemático nessa população, porque estão em maior risco absoluto para a maioria das doenças, são mais suscetíveis à posologia dos medicamentos e têm mais riscos de efeitos adversos à medicação e suas complicações.

Segundo as diretrizes de 2008 da USPSTF (United States Preventive Services Task Force), a classificação ideal dos indicadores de qualidade em idosos é: pacientes que são mais jovens (entre 50-75 anos), pacientes com idade entre 75-85 anos e pacientes mais velhos (≥ 85 anos). Com isso os indicadores de qualidade poderiam englobar todos os pacientes para os quais nem a falta de intervenção ou um reajuste acima dos parâmetros comuns, seriam vistos como uma má qualidade do atendimento.

A população idosa representará a cada ano uma proporção maior de consumidores de saúde, pelo que necessitam de indicadores específicos, e dessa forma poder ter uma verdadeira qualidade no atendimento à saúde.

Médico especialista em Administração Hospitalar e Marketing em Saúde. Autor do composto "10 P's do Marketing em Saúde". Professor do curso online Marketing Estratégico para Clínicas e Empresas de Saúde. CEO da HMDoctors, Assessor da Stratas Partners (Suíça) para o acesso ao mercado hospitalar brasileiro, Consultor de Gestão de Carreira e Marketing Médico, e Revisor de artigos e publicações sobre Gestão, Empreendedorismo e Marketing em Saúde para a revista eletrônica Gestão e Saúde da Universidade de Brasília - UNB. Formado em medicina com pós graduação em epidemiologia, formado em administração hospitalar e MBA em organizações hospitalares e sistemas de saúde pela FGV. 16 anos de experiência em hospitais públicos, privados, institutos de pesquisa clínica e consultor para empresas nacionais e multinacionais.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

× Como posso lhe ajudar?