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Relação Médico-Paciente: é sempre Honesta?

Sabemos que os avanços da medicina não estão reconhecidamente associados à maior satisfação dos médicos com sua profissão.

Por sua vez, com o atual atendimento de saúde, os pacientes encontram-se descontentes no que se refere à relação com os médicos.

Esses fatores, somados à preocupação com o aumento dos custos com a assistência e a eclosão de questões conflituosas entre usuários e prestadores de serviços na área de saúde, conferem um interesse renovado a estudos e reflexões sobre a relação médico-paciente.

Um dos principais elos que deveria existir nessa relação é a Honestidade, em busca de uma melhor qualidade de vida e acesso aos cuidados de saúde, justa distribuição de recursos e habilidade na condução de conflitos de interesses. Porém, isso nem sempre é uma realidade.

Infelizmente, de acordo com uma pesquisa publicada no The Health Affairs, a honestidade na relação Médico-Paciente não faz parte do conjunto de valores de muitos profissionais médicos.

Para falar a verdade, e não é segredo dentro da nossa área, muitos médicos preferem não seguir o caminho do profissionalismo, tal como manda o Código de Ética Médica Brasileiro, no seu capítulo III sobre a responsabilidade profissional, e decidem ocultar ou disfarçar os erros médicos, direcionar os tratamentos com interesses particulares, indicar cirurgias desnecessárias, etc, colocando em risco a vida dos seus pacientes e a credibilidade da classe.

Nessa pesquisa, de quase 2 mil médicos entrevistados, mais de 30% não concorda completamente que eles deveriam divulgar abertamente os erros médicos aos pacientes, e quase 40% não concorda que deveriam revelar as suas “parcerias financeiras” com os laboratórios e fabricantes de materiais e medicamentos.

Também, mais de 10% dos médicos admitiu que já falou para seus pacientes alguma coisa que não era verdade, e mais da metade disse que eles descreveram um prognóstico com mais otimismo do que deveria.

Tais revelações põe em evidência que muitos pacientes não estão recebendo todas as informações completas, precisas e verídicas dos seus médicos e com isso, colocando em xeque a credibilidade da classe médica.

A falta de honestidade e transparência com os pacientes pode ser em breve uma carta de apresentação não só para os médicos, mas também para todos os outros profissionais da área da saúde.

Inclusive, um expressivo número de entidades médicas norte-americanas e europeias considera para a contemporaneidade, substituir o tradicional juramento hipocrático por um termo de compromissos. Nesse termo seriam apresentados como princípios fundamentais a primazia do bem-estar e autonomia do paciente, assim como a busca de justiça social eliminando as discriminações baseadas em raça, gênero, etnia, religião e posição socioeconômica. Mas será que essa é a solução?

É hora de começarmos a estreitar novamente a relação Médico-Paciente em um círculo de confiança e comunicação. Seja da rede pública ou privada, o médico necessita de tranquilidade e deve ter todas as ferramentas necessárias para um atendimento no qual possa oferecer o melhor do seu conhecimento, toda a sua atenção e, principalmente, todo o seu respeito.

Ele precisa de tempo suficiente para conhecer o paciente, descobrir suas queixas, averiguar seu passado, seus anseios e angústias, e fazer com que saia aliviado, com perspectiva de ter seu problema encaminhado. Saber ouvir e conversar com o paciente, entender suas expectativas em relação à doença e estabelecer com ele não apenas um simples contrato de atendimento, mas um elo de amizade e confidência.

Médico especialista em Administração Hospitalar e Marketing em Saúde. Autor do composto "10 P's do Marketing em Saúde". Professor do curso online Marketing Estratégico para Clínicas e Empresas de Saúde. CEO da HMDoctors, Assessor da Stratas Partners (Suíça) para o acesso ao mercado hospitalar brasileiro, Consultor de Gestão de Carreira e Marketing Médico, e Revisor de artigos e publicações sobre Gestão, Empreendedorismo e Marketing em Saúde para a revista eletrônica Gestão e Saúde da Universidade de Brasília - UNB. Formado em medicina com pós graduação em epidemiologia, formado em administração hospitalar e MBA em organizações hospitalares e sistemas de saúde pela FGV. 16 anos de experiência em hospitais públicos, privados, institutos de pesquisa clínica e consultor para empresas nacionais e multinacionais.

3 comentários em: “Relação Médico-Paciente: é sempre Honesta?

  1. Toda equipe de saúde infelizmente está ao abandono público. A gestão não se importa com o colaborador que sente toda a dor e angustia da pessoa assistida. Poderiam dar valor nos que estamos ali junto ao paciente constantemente.

  2. A insatisfação não só é da equipe médica, também dos Técnicos de Enfermagem para atuar nesta área, pelo descaso do Poder Público com os profissionais em não oferece melhores condições de trabalho para o setor.

  3. Ola Dr. Edgar!
    Dura e triste realidade esta que vivemos…
    Se ao menos houvesse uma relação de confiança entre paciente e médico voltada ao marketing pessoal de cada profissional, já seria alguma coisa, mas nem isso nós vemos (na grande maioria, já que, como em todas as áreas, também vemos médicos excelentes e comprometidos com sua profissão).
    Excelente matéria.
    Abraços.

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